Como qualquer série de drama adolescente moderna, Misfits tem sua carga de drogas, festas, palavrões, brigas, gozações, sexo, referências a cultura pop e um quê de situações nojentas e bizarras. O diferencial é que as cenas cotidianas trazem um subtexto que relaciona ficção científica a comportamentas marginais.

A narrativa é ousada e trabalha um conceito conhecido de séries policiais: o caso da semana. A cada episódio surge nova ameaça. Mais mortos. Acompanhamos um grupo de adolescentes irresponsáveis que não se conhecem cumprindo serviços comunitários. Ao serem atingidos por estranha tempestade elétrica, adquirem poderes sobrenaturais. 

Logo eles descobrem que as novas habilidades são orientadas no que cada um estava pensando ou sentindo no momento do incidente. São pra lá de estranhas, absurdas - e algumas inúteis. Exemplos: controlar leite, criar zumbis, visão de raio X, manipular o tempo, transitar entre gêneros, ler mentes, telecinese, invisibilidade.

O primeiro uso dos poderes é em auto-defesa, contra o supervisor que os odeia. A partir daí, boa parte das situações se tornam cômicas. O humor politicamente incorreto cabe como uma luva ao personagem Nathan, um garoto extremamente desagradável. E justamente aí reside a graça dele. E o isolamento social ganha outro tom no enredo de Simon. 

As tramas ficam cada vez mais intrigantes, tudo com um senso de humor bem sarcástic, digno das produções britânicas. O roteiro surpreende até quando menos se espera dos heróis de uniforme laranja e dos efeitos especiais toscos, como no episódio centrado num universo alternativo onde os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial. 

A cada troca de temporada, novos personagens e mais poderes são apresentados. E aos poucos, vemos percebendo que outros moradores da localidade também ganharam poderes na tempestade. Dá impressão de serem ligados a provações suscitadas por tragédias pessoais e outros fatores psicológicos. Misfits, felizmente, nunca cai na previsibilidade.