As séries médicas alcançaram a popularidade na TV partir dos anos 1960, com Ben Casey e Doutor Kildare, nos Estados Unidos, e Emergency Ward 10, no Reino Unido, por exemplo. A primeira empreitada televisiva no Brasil foi o seriado Mulher.

Em mais de 50 anos, a medicina já foi retratada de diversas formas na televisão. Por anos, assistimos aos dramas Plantão Médico, Doutor House, Anatomia de Grey e Estética, e até pudemos optar por comédias, como é caso de Scrubs e SOS Emergência.

Mas nenhuma destas produções explorou os primórdios da medicina moderna como The Knick. A série trata de forma realista e grotesca os procedimentos cirúrgicos adotados em 1900. O cenário é a cidade de Nova Iorque, metrópole tomada por constantes progressos, corrupção por todos os lados e latentes conflitos étnicos.

Na trama, John Thackery é um renomado cirurgião do Knickerbocker Hospital que lida com o vício em ópio e cocaína. Lidera enfermeiras e colegas cirurgiões ao testar novas invenções e métodos cirúrgicos em pacientes que dependiam da sorte, pois muitas vezes pagavam o atendimento com a vida.

O embate racial gira em torno do recém-contratado Dr. Algernon Edwards, cirurgião negro formado em Harvard e com residência na Europa. Ele é forçado a abrir uma clínica clandestina nos fundos do hospital para atender a população negra e pobre.

A bela ambientação do período ainda traz contrastes nas tramas envolvendo questões de gênero, como no caso da administradora do hospital Cornelia. Ela vive um romance proibido com Algernon, enfrenta um aborto e se vê obrigada a casar.

Com inspirações em personagens reais, direção cinematográfica excelente e trilha sonora que causa estranheza, por ser eletrônica e oposta ao período retratado, The Knick é um bom exercício para compreender a evolução da medicina.

Se hoje dispomos de práticas hospitalares assépticas, seguras e majoritariamente humanizadas, além de um número reduzido de mortes em cirurgias, devemos a homens e mulheres tão transgressores e orgulhosos quantos os retratados em The Knick.